sábado, 17 de julho de 2010

Vida inteligente?




Pode-se ir muito mais longe nessa brincadeira sobre a individualidade x coletividade. Podemos observar as necessidades gerais das pessoinhas em serem iguais, em procurarem e a defesa normótica e anômala em nome de uma pseudo-normalidade, onde são aceitas, sentem-se parte, deixam de lado qualquer possibilidade de um olhar crítico. O eterno pintar de ‘cor de rosa’, as opiniões esdrúxulas e ‘politicamente corretas’, a inutilidade da informação generalizante, a opinião coletiva, a incapacidade sair de todo esse esquema que unicamente nos faz pensar que ‘todos somos um’.

Bobagem pura, falta de coragem de se questionar e incapacidade de se olhar ao espelho e ver a verdadeira figura que se esconde por trás da própria estupidez.

Podemos entrar em questões mais ‘profundas’ do tipo, o que é ser inteligente de fato? O que chamamos de inteligência pode ser um entorpecer tosco em nome de ser ‘mais um’?

Ser igual é deixar de ser.

Ser ‘inteligente’, pelos padrões vigentes é algo, em si, inteligente?

A brincadeira toda segue naquilo que cada um cria para si, ou crê de si. Fazer parte, ser mais um, ser reconhecido, aceito e assim por diante conta com uma boa dose de negação e compensação. Para criar essa fantasia toda, o indivíduo cria e crê ser o que não é, mas o que os outros julgam ser interessante alguém ser. A coisa surge desde a mais tensa infância, com o que costumam chamar de ‘educação’, ou criação de um ser uma aceitável coletivamente. Isto é, criado do ponto de vista impositivo, com recompensas, dizendo-se que ‘inteligente’ é ser assim, ou assado, ter um futuro, ser alguém importante e etc.

As pessoas são inseridas em um mecanismo imenso, negando-se, aplicando-se, fazendo o que é possível para ser parte funcional das engrenagens. Utilizando o que é possível e ‘inteligente’ para não ser quem se é, mas o que se espera que seja. É um processo de negação própria em nome de se tornar alguém reconhecido.

Não basta ser apenas mais um, deve-se ser “O” mais um, a última bolachinha do pacote. Não basta deixar de ser quem se é, deve-se ser alguém que não se é, mas “além” de todos. A sociedade é uma maquina produtora de idiotas inseridos, mas todos fodões, que são o máximo, que são lideres, que tem sucesso, que se destacam, que aparecem, que tem fama e assim por diante. Cada um vai tentar sempre ser o mais foda em algo.

A grande medida do quanto se é foda, claro, é sempre monetária. Fulano é o fudidão, se conseguiu ir além em alguma atividade e ganhou a tal grana e portanto, ‘construiu algo’. Fulano inserido na sociedade é o foda para com o resto dos inseridos achando-se, por exemplo, mais inteligente. Daí, começa a olhar para o mundo e ‘ver’ quem é mais inteligente, medindo pelos padrões de valores gerais e coletivos, como por exemplo, sendo mais politizado, ou filosófico, ou culto, ou erudito, ou psicologizado, ou que ficou rico através de ‘cultura’, ou teve alguma ‘sacada’ inteligente que rendeu bastante.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Manter-se



Saber-se é como olhar pela janela e saber cada detalhe. A janela que dá vistas para a própria alma. Alma que vai além de lamentos. Alma que uma vez vista é a eterna recordação de quem se é. Olhar a si mesmo, ver-se sem cascas. Perceber-se e despertar a cada instante.

Observar-se, perceber o próprio fenômeno, com o olhar correto, com a percepção além das distorções das máscaras que não são quem somos. Nesse local, a via de acesso para aquilo que é através de si, vê-se a forma como se deve seguir.

Procurar o procedimento correto, a linha reta por si e para tudo. Saber todas as condutas, caminhar com solidez, passo a passo, sendo quem se é acima de tudo. Caminhar com os pés de quem se é, estar pisando por si mesmo e ninguém mais. Ter em mente o caminho, o traçado de onde se quer chegar. Traçar sempre os próprios objetivos que nos levam além do que possamos simplesmente ser, sendo quem somos sem nos esquecer, daquilo que nos torna.

Ser quem se é, nada mais, nada menos. Ouvir a pulsação de cada instante do que traçamos e manter-se firme e reto. Tudo o que queremos é o que somos. O que somos nos mantém unidos dentro de nós. Estamos além do olhar que nos colocam. Estamos dentro do que sempre quisemos e nunca conseguimos antes expressar.

Fiéis com o que somos, com quem somos e muito além. Impecáveis com cada movimento. Impecáveis em cada parte nossa. Nosso procedimento é nossa conduta. O respeito para com tudo é como o respeito para com nossos objetivos. Nosso sarcasmo a tudo denuncia. E nos centra dentro daquilo que temos a certeza. Cada detalhe cuidado. Cada pedaço de nossa vida em nossas mãos. Saber o que se fazer. Tocar nossos horizontes, tocando além dos limites.

A solidez se torna quem somos. Somos o olhar fixo da janela, olhamos a tudo que existe de forma correta. Não projetamos mais. Não esperamos nada de ninguém. Tudo segue seu fluxo. Esquecemos-nos do que não é. O que foi e nunca teve importância. Estamos além de nos machucar, não estamos mais submetidos ao que achamos que somos. Não mantemos mais aparências. Estamos além do que pensamos que poderíamos ser. Compreendemos nossos passos. Nossos passos são nossos objetivos. Aqui estamos observando os obstáculos que irão nos levar além.

Os sentidos são formados. E os sentidos vão se desvanecendo e tomando um contorno muito além do esperado. Não existe nada a esperar. Os sentidos explicam, dão respostas e deixam de ter sentidos. Tudo se transmuta e gira na eterna espiral que nos leva ao centro da eternidade.

Mantendo-se. Tornando-se. Deixando-se. Compreendendo-se. Desfazendo-se. Vivendo-se. Tornando-se.

Mantendo-se. Tornando-se. Deixando-se. Compreendendo-se. Desfazendo-se. Vivendo-se. Tornando-se.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

E se...


E se me pintasse com a mais fina maquiagem, unido as formas de meu rosto como a de um palhaço? E se fizesse isso para parecer humano? E se trocasse de pintura diante de cada olhar faminto? E se, com minha máscara, mostrasse a sua máscara? Pois olhando para todos, cada um só vê a si.

E se eu soubesse o que esconde? E se a pintura em minha cara fosse a sua perdição? E se, cada traço que desenhei for estampar a sua incompreensão? E se, olhando para minha pintura, perdesse o olhar de tudo e ocorresse o estampar da sua loucura? E se, descobrisse que a sua ordem é aparente? E se, sendo eu um louco palhaço, o fosse só para que pudesse entender pouco mais do que nada, do que não olhou aí dentro?

Que loucura é essa que aparece do nada? É sinal de que me reconhece? Que teme o que vê e chora as lágrimas que nunca darão absolvição? E olhando para si, teme descobrir quem é? Que luta para ser normal nos limites da sua loucura? Que se torna demente tentando encobrir a sua diferença? Que aquilo que chamam de normalidade é uma jaula em um manicômio? Que a sua máscara é uma camisa de força?

E se, olhando para meus olhos alucinados, visse o que existe dentro de si? E se essa alucinação for sua? E se eu souber disso? E se brincar com seus brinquedos, que chama de vida? E se, zombar de seus valores? E se, rir daquilo que chama de responsabilidade? E se, por um mero acaso, ver que minha sátira é certeira?

E se, vendo sua imagem no espelho, ver apenas o palhaço louco? A alucinação de seus gestos, a distorção das imagens que julga verdadeiras? Meu rosto não é meu. Minha face não pode ser vista. O que olha em mim, sua mente não classifica e sua consciência rotula. Minha risada é do que não compreende. Olho a você e nada vejo, só uma caricatura tentando ser séria.

Irei gargalhar de seus trejeitos, que não são seus, apenas imitação. Rirei de suas prioridades, de suas necessidades, de sua mania de ser normal. Rirei de seus rótulos e mais ainda do que pensa a respeito de todos. De suas manias de grandeza, iguais a todos o que querem ser enormes.

Não aceitarei seus valores, nem suas moedas. Nada há para trocar comigo, pois não enxerga em mim o que não pode usar de meu. A pintura não é minha. A máscara não fui eu quem desenhou. A face é você próprio quem estampa.

O palhaço que tanto ri...

Onde está a graça?

Do que ele ri? De forma insana e interminável? Estridente e macabro? Seria, loucura?

Será você a me dizer o que é sanidade?

Qual o motivo de estar tão sério?

Rirei até seus ouvidos doerem. Onde está a piada?