segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dança Cósmica da Alucinação, Cósmica Alucinação na Dança

Alucinação de Si Mesmo?




É complexo falar sobre o Self (ou o Si Mesmo). Certas experiências são difíceis de se expressar, por se tratarem de elementos além das palavras. Nem sempre a razão é capaz de captar o que vivemos. Poucas vezes somos capazes de dizer o que deva ser dito, por não haver palavras. A razão apenas capta o que é plasmado pelas imagens. Ir além do que conhecemos como o que somos é uma experiência de êxtase puro, do tirar as máscaras e assumir quem realmente se é.

Assumir-se é ir além das figuras do ego. Abrir o canal para o acesso ao Self é como um desmontar de peças que colocamos como sendo o que gostaríamos de ser. Vivemos de projeções e expectativas. Até o despertar somos o que querem que sejamos. Lutamos para sermos iguais a todos. Lutamos para sermos aceitos. E todos os que temos próximos e dos quais necessitamos, jogam com o amor, com a atenção, com punições, nos compram, nos vendem, nos “educam”.

Esse é o processo da domesticação. Ao contrário dos animais, somos domesticados. Somos condicionados, escravos da grande máquina motora da sociedade. Fabricados como tijolos, para sermos encaixados no grande muro do mundo moderno. O muro que fecha o caminho para o Self, onde somos quem realmente somos, que está em um outro Mundo (que não é mundo) onde somos seres totalmente selvagens.

O ser natural e selvagem que vive em nós está além de todos os muros. Para acessar a quem somos, temos de desconstruir o muro. Desconstruir quem somos. Refazer a escala genética evolucionária. Destruir a evolução que nos coloca como elementos de uma parede. A sociedade nos tornou uma projeção dela mesma. Uma distante fortaleza da solidão, onde estamos em contato com todos ao mesmo tempo em que estamos isolados de quem realmente somos. E a solidão de estar longe do Self é viver entregue às máscaras que criamos para o mundo.

Desmontar a fortaleza da solidão é recriar o grande labirinto em espiral. Cada tijolo daquilo que achamos que somos irá fazer parte da grande escadaria em espiral para o centro. O centro de quem somos. Descer essa escadaria é entrar na grande alucinação do Self. A percepção do fenômeno do Self, a alucinação do encontro consigo mesmo.

Perceber a Si Mesmo é perceber o que não se é. A retirada das máscaras, a assunção do verdadeiro em si. O estremecimento daquilo que chamamos de realidade, a vinda daquilo que podemos chamar de Verdade. A única e subjetiva Verdade. Além de símbolos, imagens, literatura, mitos, figuras e qualquer forma de imaginário. Nada além de Si Mesmo, nada menos do que se é. O exato. O ponto central e de equilíbrio total.

Perceber-se, saber quem se é. Saber o que não é. Saber os próprios limites. Saber onde se toca o ilimitado. A percepção de até onde vamos. E o que está além de nós. O que é meu, realmente meu. Quem sou e o que isso me possibilita. O que me possibilita é algo que me define. O que me define é o meu mar infinito de possibilidades.

Os filamentos alucinógenos de tudo que sou. O verdadeiro transe de quem sou. A dança do êxtase da viagem ao meu mais profundo. Ali onde me misturo com tudo que existe e onde sou parte, Eu mesmo sou o dançarino cósmico. Minha dança é a dança do universo, do infinito e do finito. Sou o que posso ser. Isso é o grande assombro de ser quem sou. O assombro do Si Mesmo. O assombro de tudo que existe.

Quem sou circula por mim, é quem sou, está além do jogo de máscaras. Para o mundo estou usando uma máscara. Perante mim, no centro de todos os labirintos, estou além de todas as máscaras. A máscara é aquela que uso para o mundo. E de mim, o mundo apenas vai ter minha máscara.

A máscara que é um conjunto de máscaras. O labirinto das máscaras. Aquela que dança com filamentos que destroem e penetram a ilusão que todos criam para os próprios egos. A máscara de minha persona. A persona de meu ego. O ego que confunde egos.



Nataraja



Assim serei: Aquele que usa a máscara e não é usado por ela. Quem puder me ver, olhará a algo firme como a mais pura rocha. Atrás da máscara, a mais pura alucinação. A minha dança cósmica em êxtase. O êxtase da bacanália. O êxtase da dança de Shiva, o Destruidor. O vórtex da existência.

Nada além de mim, além de mim mesmo.

Pura transgressão...

1 comentários:

Anônimo disse...

Perfecto!

Há um tempo atrás, algo que vc escreveu na Hécate sobre o Si Mesmo me inspirou a escrever isto:

Coagulando a Alma

Nasci e me ensinaram quem eu era.
Cresci, buscando mínimos reflexos de mim mesmo.
Caí neste mundo de cegos paralisados
E morri, antes de ter me encontrado.

Agora morto, me enxergo melhor
Longe dos olhos de quem me criou,
no cerne do vazio de onde eu vim
da minha alma pulsando sangue e calor.

Abrindo meu peito de vidro a marretadas,
Eu arranco as vísceras do meu coração!

Gritando alto em meus tímpanos inférteis,
Eu môo a estupidez do meu cérebro!

Arrancando os músculos dos meus braços inértes,
Eu decrépito a mim mesmo!

Rasgando com uma navalha os meus olhos de carne,
Eu refaço a minha alma!

Enfim, sou Luz embutido de Trevas
Enfim, sou Paz esculpido no Caos.
Sou eu! O Si Mesmo, sem comparações!

Só, magicamente só!
Feliz, desordenadamente feliz!

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Abraços!