Somos semelhantes a estrelas?
Seriamos moldados pela energia psíquica (para alguns a libido), que por comparações míticas, poderíamos associar ao funcionamento estelar. Existe toda uma “economia” ligada a essa energia, além dos problemas causados pelo aumento de entropia.
Manter certas estruturas demanda mais energia psíquica. Certos esforços também. E esse é o caso da complicada estrutura que criamos, chamada de persona. Ou pelo termo que venho aplicando: Máscara.
Falar sobre a máscara realça todo um conteúdo mítico e simbólico que auxilia no trabalho de remover. Remover, claro, todo o conteúdo mítico e simbólico que nos impede de ver corretamente a máscara. Ou simplesmente de nos olharmos sem ela. Ou, mais complexamente, de olhar para o mundo sem o seu auxílio. Olhar para nós e para todos sem os filtros da máscara.
A máscara é nosso molde para o mundo. Foi construída baseada nos critérios de aceitação desse mesmo mundo. Foi moldada pelo nível de exigência de cada individuo. Foi forjada com energia psíquica. Foi calcada e calcinada em nossas faces por apego e infantilidade. Ela se mistura conosco e nos faz crer que somos única e exclusivamente ela. Somos dominados por algo que criamos para poder conviver na sociedade.
Não somos a mascara. Temos de enxergar além dela. Porém, cultuamos tanto a máscara, nos importamos tanto com ela, que necessitamos cada vez mais de energia para que ela seja cada vez mais bela e aceitável.
Para ir além da máscara, necessitamos ver quem realmente somos. E para tanto, necessitamos de energia psíquica. Pois a imagem real está além da máscara. Não estamos visíveis, não sabemos para onde exatamente olhar. Quanto mais nos focamos na máscara, menos vemos nosso próprio conteúdo, mais tendemos para a futilidade. Mais vivemos de aparências, voltados ao exterior e a quem se importa com máscaras. Ou seja, praticamente todos.
Com uma máscara, podemos ser quem quisermos. Moldamos a máscara ao personagem que nos mais agrada. Porém, esse personagem é falso. Algumas vezes é moldado conforme mitos. Outras, conforme a literatura. Ou conforme os moldes mais comuns existentes. Como não corresponde a um padrão real, calcado em quem somos, esse personagem não é capaz de alcançar algum desenvolvimento, ou chegar à maturidade.
Viver pela máscara começa a se tornar um fardo. É necessária cada vez mais energia psíquica. Deixar de lado qualquer desenvolvimento e contato consigo mesmo, em nome da dedicação as aparências. É muito mais difícil ser algo que não se seja, do que focar-se no Si Mesmo, e deixar que a criança, o Puer, tome o controle sobre a persona.
Focar-se na máscara é antes de tudo invejar. É querer a melhor máscara, é espelhar-se no outro para melhor se compor. É criar com mais e mais esmero uma fantasia. Afinal, máscaras são utilizadas juntamente com fantasias. A fantasia de um fútil baile de máscaras. Onde ninguém enxerga o real rosto de ninguém.
Sem o acesso à criança solar, não existe contato com o espiritual. Depende-se da pura fé, da doutrina, do dogma, daquilo que não inspira reflexão, pois conectar-se ao divino é uma profunda forma de se liquefazer a máscara.
Nada é real. A máscara, a família, a sociedade, a religião, o estado, o direito. Todos são compostos por máscaras e pelas máscaras. Seres que protegem as máscaras. Máscaras que protegem máscaras. Pessoas que lutam pela manutenção de um mundo calcado em máscaras. Tudo é aparência.
Qual o preço do sacrifício?
Até o momento em que começa a insatisfação. Qual o custo pela manutenção de máscaras que nos afastam de quem somos? Qual o custo da manutenção de papeis que não nos possibilitam o crescimento e fortalecimento de laços com a psique? Qual o custo do sacrifício para estarmos distantes de quem realmente somos? Vale realmente a pena termos vidas infantis voltadas para as aparências? Deixarmos de lado o nosso verdadeiro eu selvagem? Sermos domesticados e acorrentados em uma teia infinita de responsabilidades inúteis, que apenas consomem nossa energia? Termos uma história pessoal pela qual lutar? Termos uma vida voltada e calcada em padrões de moral e conduta impostas pela sociedade? Vivermos nulificados em nome de uma divindade? Deixarmos de lado quem somos em nome de uma crença? Vale a pena deixar de viver em nome de um relacionamento? Vale a pena apostar em quem não amamos, em virtude da crença da santidade do casamento? Vale a pena ser dependente de quem quer que seja, em nome de dizer que somos felizes? Vale a pena viver de esperanças, enquanto nada acontece? Vale a pena não agir, em nome de uma vida que nos é imposta?
A roupa que veste, é realmente sua? É esse o papel que quer para si? É isso que vê no espelho, o reflexo do seu eu real?
A relação que tem com a família é real? A dependência que existe para com a família, é algo seu, ou imposto? A dependência que a família tem para com você, é real, é imposta, é ilusão? É glamour que o cerca realmente? A miséria que tudo se tornou, é realmente seu? É algo maduro? É algo que o leva ao desenvolvimento?
Gasta todas as energias que tem com o que?
As responsabilidades que tem são realmente necessárias? Precisa realmente disso? Está além do que é suportável? Realmente é alguém de sucesso? Ou é escravo do que chama de sucesso?
Existe vida além disso? Onde está no meio disso tudo?
Assumiu ser louco, por precisar de disso? Sua loucura é real? É imposta? É um papel? É uma forma de conseguir algo? Até que ponto é dependente de seus escândalos? Até que ponto se tornou dependente de sua doença?
Até que ponto a sua doença é criada e cultivada pelo meio? Necessita realmente dela? Necessita realmente ser um incompreendido? Necessita de ser uma pessoa correta?
Isso tudo que mostra e vê, é real?
Caso não seja, não é você.
Quem é você aí no meio disso tudo?
Não gaste energia com ilusões. Foque sua libido no Si Mesmo e no nascimento da criança solar. É essa que vai se desenvolver.
Mas cuidado. Quando retirar a máscara será apenas você mesmo.
Agüenta essa visão?
Já vi gente enlouquecendo por ver quem realmente é. Tentando juntar os cacos da máscara. Tornando-se mais e mais doentias. Perceber-se é doloroso. Saber quem se é, uma tarefa para poucos.
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