segunda-feira, 7 de julho de 2008

Espirais



Diz a tradição do sufismo, que cada verso do Alcorão tem 40.000 interpretações.

O movimento que vai do círculo ao centro corresponde a uma espiral dupla. Quanto mais se compreende o que está dentro, com a espiral que tende ao ponto central, mais se compreende o que está fora, com a espiral que parte do centro. Ir ao centro é multiplicar as percepções de si, vendo-se sobre diferentes formas. As percepções vão se alterando e mostrando diferentes faces de cada parte nossa. Os sentidos vão se alterando. As compreensões tomam coloridos multifacetados, enquanto vamos indo cada vez mais de encontro do centro da espiral. Quando mais distantes dos domínios do ego, melhor percebemos tudo em nosso interior. Tudo faz um sentido diferenciado, eqüidistante, equilibrado, mesclado com a ontologia do Si Mesmo. Existe um controle natural das coisas com todo o sentido do reencontro. O reencontro vai alterando as cores, as formas, as estruturas. O reencontro vai se tornando o centro. O centro gira como um dervixe. Tudo que existe dentro de nós executa em um movimento circular. Todos os elementos se tornam como planetas em torno do Sol. O que sabíamos não sabemos mais. Revemos o que achamos saber sobre qualquer coisa. Todas coisas mudam de forma. As formas deixam de ter forma. As formas voltam a se plasmar. A percepção capta através da própria transformação.

Ondas partem do centro modificando os olhos dentro do círculo. Refletem-se por todo o ser e voltam ao centro, captando novos movimentos. Toda a dinâmica com o movimento das ondas é alterada. Cada nova onda gera formas diversas e dissolve elementos estranhos. As ondas partem conforme os ciclos próprios, mesclados e em sintonia com os ciclos dos céus e da natureza. Tudo em órbita. Estamos em órbita com o que temos relação. Os fluxos partem do externo, penetrando pelo Self que espalha e gera as espirais internas.

A energia é espalhada como uma dança. Cada parte nossa se movimenta. Nada mais é como antes. Vamos entrando no centro, atraídos pela gravidade de nossa essência. Procurando o ponto aonde todas as compreensões vão tomando um sentido maior. Mais próximos do centro, mais as multifacetadas informações vão se tornando e deixando sua complexidade de lado. O todo vai se tornando e vamos deixando de lado nossas partes que não se movimentam em toda nossa teia interna. Conhecendo cada vez mais quem somos. Desmontando o que achávamos ser. O que não somos é deixado de lado, juntamente com os elementos que criamos para essa inexistência. Não existe sentido ali, nem necessidade alguma.

A gravidade do ponto central deixa de ser apenas nossa meta. É o que nos motiva, até o instante em que inexiste. Não estamos mais tendendo. Fluxos do Self invadem nossa existência. Tudo circula, caminhos são abertos. O Eu Central toma seu lugar e restabelece seu controle. Para e contempla a própria essência. Recebe seus influxos e se torna uma manifestação total. Os significados vão se alterando. Deixando de ser significados. A análise de si vai perdendo o sentido. As possibilidades vão aumentando. O encontro é total. A visão interior vai entrando na espiral, que vai liberando o restante de quem somos. Cada parte é conectada e somos cada vez mais unificados. Não diversas vozes de elementos estranhos, mas o centro que comanda todo o círculo. Do centro parte o que somos. Deixamos de procurar e começamos a ser. Não acreditamos mais, partimos para exercer. Sabemos quem somos. Sabemos o que fazer. Nada mais em nós é diferente. O sentido é o que nos norteia. Somos fiéis a quem somos.

Não existe diferença.

Não existe diferença dentro de nós. Tudo se expressa da maneira como somos. Não somos o que querem que sejamos. Não somos algo para agradar a ninguém. Não somos o que não somos. Estar no centro é ser quem se é.

Não existe diferença entre nossas vidas. A vida material é una com nosso interior. Reflete totalmente o que temos dentro. Nossos enganos para com o mundo são deixados de lado. O mundo deixa de ser reativo ao que não somos. Sabemos nosso local no mundo. Sabemos nossas relações com todas as facetas de nossa vida. Compreendemos aqueles que nos cercam e cada instante de nosso passado. Tudo começa a se tornar uma linha, uma corrente, um fluxo, que desemboca no instante presente. Conseguimos nos enxergar através do Tempo.

Não deveria existir diferença entre quem fomos no passado e quem somos agora. As cascas criaram as diferenças, vidas diferentes numa mesma vida. Partes diferentes de uma mesma essência. Pedaços soltos de um quebra cabeças que não fazia sentido algum. As peças se unem. As que não existem e que criavam um ser esquartejado são descartadas. Personalidades estranhas deixam de existir. Mentiras que criamos para nós desaparecem.


Não é mais possível mentir para Si Mesmo. Quem somos não pode ser negado. Por mais que tentemos criar coisas inexistentes. Por mais que acreditemos ser o que não somos. Por mais doloroso que pareça olhar-se. Poucos são os que tem a capacidade de olhar-se. De ver quem são realmente. Que a vida que escolheram é mentirosa, que é inexistente em si. Alguns deparam alguma vez com a imagem da máscara no espelho. Por alguma surpresa, por alguma procura espiritual, por algum motivo ligado aos ciclos internos. E esses se desesperam, fogem, negam, correm e fazem questão de esquecer. Poucos são os que têm a coragem de encarar a máscara e tirá-la do rosto. De vencer as ilusões, a imaginação, as mentiras, o coletivo, os contratos, as dependências, o mundo.

Querer manter as mentiras e tudo que criamos para não sermos quem somos começa a nos sabotar. Manter o castelo é doloroso. Deixar-se de lado é tóxico. Vivemos de desilusão a cada momento. O que queremos ser se volta contra o que temos de ser. O que somos começa a sabotar o que nos nega. Nos tornamos inimigos, nossos inimigos. O cheiro de nossa podridão começa a aumentar. Os mecanismos para mantermos os outros sob controle, jogos de poder para com os outros são paralelos com os que aplicamos em nós. Tentamos repelir as emanações do Self. Mudamos de assunto, não queremos ouvir a ninguém que negue quem achamos que somos. Vamos criando uma casca protetora e agressiva para manter o castelo. Tentamos enfeitar esse castelo para parecer um palácio. Mas para quem negou o mundo do ego, esse castelo é apenas uma pocilga. Não há como negar quem se é para quem sabe quem ele próprio é. Nossos esquemas de enganar a todos e de nos tornarmos agradáveis e sedutores, ou de mostrarmos o quanto somos superiores aos outros, é apenas algo nojento aos olhos de quem se vê. Não há como enganar. Só enganamos a nós mesmos e a quem se engana. Pois todos estão interessados em apenas manter as aparências e a conquistar o que qualquer um que se engana consegue. Manter a mentira, o erro, a vida sem rumo, ter os objetivos que a sociedade impõe. Os objetivos de todos não são para nós. São para os que querem algo da sociedade. E o que a sociedade quer é submissão. E ser submisso e respeitador das leis e das tradições seculares, é o que todos querem. Assim, lutam contra o Si Mesmo. E essa luta é desigual. Pois tudo que parecemos fazer é incapaz de nos trazer o que todos almejam, a felicidade, o sucesso, o amor e assim por diante. Procurar isso acaba sendo a meta. Sempre de forma mesquinha. Sempre por migalhas. Sempre ganhando muito pouco e dando absolutamente tudo de si. É uma busca interminável, um caminho em círculos, um amontoado de nada, em nome de nada. Enquanto os anos passam e devoram. A vida foi um andar em círculos, sem chegar a local algum. Círculos e círculos e círculos. Apenas girando longe do centro. Sem olhar para ele. Olhando apenas para fora. Quem se é, uma imagem distante. Todas as migalhas que ganhamos nessa vida sem rumo, são tomadas de assalto por qualquer tempestade. O furacão de forma espiral é capaz de levar tudo em instantes. Não temos nada fora do centro. Não temos o que nos ensinaram e domesticaram para ter. Não temos bens, nem saúde, nem amores verdadeiros. Nossos relacionamentos se baseiam em projeções. Não conhecemos as pessoas com quem vivemos. Achamos que sabemos com quem estamos e sempre nos enganamos. Pensamos conhecer o outro. Pensamos que amamos. Pensamos que somos amados. Falamos que amamos o outro por conveniência. Vivemos com o outro para termos atenção. Sustentamos um relacionamento por egoísmo. Nunca amadurecemos para saborear uma relação de confiança. Temos alguém para os outros. Criamos compromissos para satisfazer a família. Criamos uma família em nome de algo maior, mas falso e destruidor. Não somos capazes de amar o outro. Vemos no outro apenas quem gostaríamos de ser, ou o que gostamos em nós. Tudo o que projetamos é parte do que achamos ser. Tudo o que vemos em alguém é ilusão. Nos apaixonamos por irrealidades. Toda a paixão é finita. Não se mantém, pois é olhar no espelho e enxergar cascas. Quem não conhece a Si Mesmo não é capaz de expressar totalmente o que significa o amor. Não existe ligação entre cascas. O outro espelha o que existe em mim. E mais cedo ou mais tarde, o meu pútrido vai se espelhar. Não serei mais capaz de estar com quem mostra o que existe de podre em mim. Procuro outro para nele ver algo bom do que gostaria de ser. A busca é interminável. De pessoa em pessoa vendo algo que não existe. Procurando eternamente pelo que não existe. Enquanto não espelhar nada no outro, não serei capaz de ver essa pessoa. Não serei capaz de escapar daquilo que o outro esconde. Não serei capaz de me apaixonar pelo outro e não apenas por aquilo que me ensinaram a almejar.


Não existe diferença. O outro é meu abismo. O outro só é meu quando o domino. Preciso de ter alguém. Ter como uma mercadoria que vendem por aí. Pensamos que amar é possuir. Que o outro é nosso. Que precisamos ter a alma do outro, pois apenas o relacionamento é pouco. Não somos capazes de conquistar a nós mesmos, quanto mais ao outro. Não temos domínio sobre o que somos. Temos de nos adaptar para sobreviver, para sermos aceitos. Nos vendemos muito facilmente. Compramos e dominamos por “amor”. Somos comprados das formas mais vis. E cada vez mais vamos perdendo o rumo de quem somos. Deixando-nos de lado em nome de um todo maior. Fazemos questão de cortar o contato com o centro. Até quando as coisas fogem totalmente de controle. Ou entramos nos estados mais depressivos possíveis, onde literalmente nos destruímos, ou lutamos para manter as aparências. Tudo vai depender de como gostamos de nos destroçar. Segurando o mundo nas costas e envelhecendo de forma anormal, vivendo uma vida de não vida. Entrando na loucura da intensidade total, para vivermos nossa auto-destruição. A podridão do mundo definitivamente nos contaminou totalmente. Ou, mais simplesmente, vivemos sem olhar para nada, achando tudo belo e incapazes de dizer que existe algo que não é bom. Tudo tem de ter um sentido de amor no fundo. Tudo tem de ser divino. Nossos enganos, nossos erros, a luta para nos mantermos inconscientes. Nos tornamos dependentes do sistema para podermos respirar e longe do centro. Lutamos pelo sistema, pois esse parece capaz de nos afastar da loucura que ele mesmo nos colocou. Somos totalmente ligados aos valores da sociedade para nos afastarmos de nossa luta. O que podemos ganhar com o coletivo é um desejo para apaziguar nossa dor que não podemos sentir. As feridas aumentam. Começam a nos devorar por dentro. Chegam a somatizar e a se tornarem doenças físicas. Escolhemos nossa morte. Criamos nossas dores. Ilusões se tornam realidades. Criamos doenças e traçamos nosso fim. Viver para o mundo tem seu preço. As feridas ganham vozes. Falam por nós. Lutamos contra elas. Lutamos contra as feridas. Lutamos contra o Self. Lutamos com o mundo para lutarmos conosco. Nos tornamos revoltados com nossa situação, como com o nosso insucesso. Achamos que nos perseguem, vemos todos como inimigos. Temos certeza de que todos nos invejam, que cobiçam o que temos. Sempre precisamos provar tudo para as pessoas. Precisamos chegar lá, subir até o topo, vencer a todos. Nada é suficiente. Tomamos coisas dos outros. Coisas que nem aos outros é dado. Tentamos vencer a tudo. Acabamos sendo agressivos, violentos e covardes. Queremos vencer, mas temos medo de lutar. O que existe dentro de nós nos consome. Tentamos lutar lá fora nossa luta interior. A luta inútil. A luta contra Si Mesmo. É uma luta desigual. Onde o ego não cede, onde seu domínio vai gerando incompreensões infinitas, pois mais positivo que ele queira ser.



E assim olhamos para as pessoas como caixas de ventos. Ocas e sem serem capazes de olharem para dentro. Aqueles que ficam horas diante de um espelho se embelezando sem conseguirem se ver. Que cultuam a própria aparência em nome do outro. Que não conseguem ter a vaidade por ela em si. Que não sabem o que é o belo, apenas o que é da moda. Que não são capazes de criarem algo próprio. Ou tem vergonha do outro, ou querem sua atenção total.

Aparências, apenas isso. Não existe diferença.

Desfazer as mentiras que contamos a nós mesmos é uma chave para o encontro com o centro. Cada uma delas fornece uma compreensão, como um jogo de charadas quando vão sendo desbaratadas. É parte da desconstrução que vai formando uma espiral para o centro. A recriação de si, pelo desfazer. Algo é desmontado. Outras coisas vão putrefando. Primeiro vem a foice do Tempo preparando o caminho. Resolvendo todas as questões necessárias, desmantelando elos das correntes. Os ciclos se alinham. O exterior vai se quebrando. Não reconhecemos mais o mundo, nem nos reconhecemos nele. O tempo é chegado. Inicia-se a transformação.

É criado o casulo com nossas irrealidades. Ficamos presos no meio disso tudo tentando quebrar o que nos prende e sem compreender nem como, nem de que forma. Outras diversas ilusões são criadas, para sermos capazes de ver o que nos seduz. Começamos a olhar para dentro e a descartar. Analisar, ver, compreender. Tudo vai caindo e montando o caminho. Olhamos para cada parte e essas vão entrando em órbita do centro. E vão mostrando seus lados diversos. Vamos percebendo cada lado de cada coisa em um movimento circular que leva ao seu centro. Entrando na espiral da compreensão de tudo que nos pertence. Esse movimento em espiral se espalha pelo restante dos elementos. Os elementos todos vão espiralando rumo ao ponto central. Deixam de serem elementos, se unem ao todo que somos.

Não existe diferença. Quando mais se está no centro, menos se está no centro. Aquilo que fomos capazes de perder a vida para conquistar, em nome da auto-afirmação e auto-importância, deixa de ser uma meta suprema. Se é algo nosso, torna-se natural conseguir. E quando conseguimos, é parte nossa, é algo natural e não há necessidade de ser mostrado. O que é nosso, ninguém pode tirar. O que não é nosso, nos causa dor, fere, nos faz perder tempo. Desperdiçar tempo é uma doença, pois temos dele muito pouco. Fazer sentido é economizar nossos dias, pois sabemos o que vamos fazer. A foice do tempo carrega o que não somos. Enquanto carregarmos o que não somos, iremos morrer continuamente, em busca da transformação. O casulo vai tirar nosso ar. Vai nos matar lentamente, enquanto morremos indefinidas vezes. Quem não se transforma, atrai a morte. Quem não morre para se transformar, carrega o fardo de carregar o mundo pelas costas.

Mais que isso, o Despertar. Acordar no despertar.

Despertar do pensar. Sair do ciclo enganoso de que estamos pensando e não apenas sendo levados em infinitos devaneios. Refletir, escapar dos jogos mentais que criamos para ficarmos presos dentro de nós, olhando para fora, sem ver nada em local algum. O ego toma a mente. As vozes das feridas nos atacam. Os predadores se levantam. O Self sabota o sistema. Tudo se torna instável. E mesmo assim, as pessoas continuam vivendo fazendo de conta que tudo está normal. O medo é uma constante. A insegurança. O negar-se.



O Centro.

Estar no centro é quando a espiral nos torna. E vemos outra espiral de tudo que circula a partir do Self. A espiral que nos contata com o Cosmo. Espirais que levam a espirais. A liberdade de ter retirado o peso das máscaras que nos consumia. O que sabíamos começa a se reorganizar. A espiral da memória nos refazendo pelas pistas que o Self havia deixado pelo caminho. Lembramos o que sabíamos e agora existe um real sentido. O Tempo levou nossas lembranças. Nos castrou de quem achávamos que éramos. Agora estamos lembrando. Das profundezas de quem somos, nasce um novo ser. Toda nossa vida havia se tornado cinzas. Havíamos caminhado pela loucura, procurando a insanidade de nossa essência, em um existir que invariavelmente se torna uma catábase. Quando apesar de qualquer sucesso aparente que ousássemos achar ter, era correr para o desastre. Tudo cái e encontramos a loucura que sustentamos. Essa demência que faz tudo girar e entramos no centro, onde o Self está ali pronto para destruir tudo em seu giro.

Ver-se é não conseguir mais sustentar o Mundo. Esse desfalece, quando do centro emana o que somos. Todas as projeções vão caindo, uma a uma. E sabemos finalmente que o mundo não é aquilo que sempre pensamos que fosse. A mentira aparece. Tudo desvanece. As pessoas começam a ser quem são. O que víamos de bom nelas é o que gostaríamos de ser. O que vemos de ruim é o que descartamos em nós. Não são o que achávamos que eram. São o que infelizmente são. Essa é a realidade. Não existe nem bom nem ruim. Existe o que é.

Não existe diferença. É a realidade. Nada mais. Nada menos.

Desaparece a dor que criamos.

Desaparecem nossas criações. O sistema ao qual estávamos ligados vai desfazendo suas conexões. Não pode mais nos tocar. Existem lampejos de insegurança, quando até certo modo tememos o que vem adiante. Quando vemos as direções das espirais as quais estamos nos conectando. O mundo se revolta contra nós no inicio. Depois vai fazendo questão de nos esquecer. Mas aqui ainda estamos. E aqui ainda vivemos.

Tudo vai desaparecendo. Os mecanismos de controle que nos prender passam a ser percebidos. Não existe mais inconsciência perante o mundo. Ainda temos de lidar com tudo, mas sabendo o que está acontecendo e tendo a possibilidade de ter controle sobre o que queremos. Não nos guiamos mais pelas ilusões. Não imaginamos mais o que queremos ser. Não mentimos mais para nós mesmos. Quebramos causas e efeitos, deixando de ser apenas reativos. Temos as rédeas em nossas mãos e, seguindo corretamente, podemos adentrar pelas espirais.

O despertar daquilo que achávamos ser o nosso caminho. Os despertares anteriores. As percepções anteriores. O acumulo de conhecimentos e vivencias inúteis que nos deixavam presos em nossos labirintos. Desmantelamos nossas seduções. Não precisamos mais de nos cercarmos do infinito, ou procurar a totalidade, ou seguir a espiritualidade do mundo. Os paradigmas, os quânticos, os metafísicos, os intelectualismos, os gurus, os nagualismos e todos os achismos. O que é seu é seu, não é dos sábios. Não existe fórmula de massa. Não existem paradigmas. Não existe olhar para o mundo. O mundo é irreal. Nós no mundo somos tão irreais quanto a todos. Tudo é irreal, quando não estamos no centro. Podemos saber todas as tendências espirituais, todos os movimentos, conhecer a tudo. Mas se não deixarmos o mecanismo do mundo para entrar no ricochetear das espirais, estamos presos a conceitos. Conceitos limitam.




Não creiam que estou escrevendo algo baseado em coisas que li ou estudei. Estou escrevendo para deixar tudo de lado. Meus estudos durante todos esses infindáveis e tão breves anos me levaram a conclusões. Essas conclusões todas foram para quebrar tudo que estudava. Estar além de símbolos e teorias. De práticas e modelos. O que aprendi é que nada vale sem se estar em contato consigo mesmo. Torna-se um bibliotecário de livros que serão queimados. O doutor do erro. Aquele que carrega toneladas de conhecimentos arraigados que nos afundam no mar da confusão.

Transforma-se é deixar-se. O desapego não se constitui em vender tudo que se tem para dar ao que antes mais necessitavam. Desapegar-se é deixar de lado a própria falácia de que se tem o desapego. Fazer questão de esquecer. Saber lembrar. Misturar o resultado disso com o fluxo do Self. Penetrar totalmente em si. Lançar-se ao vazio sem a intenção de retornar. E por causa disso, renascer e voltar como aquele que não foi.

O Self deixa de ser o Outro. Aquele que estava no fundo de nossas imagens nos assombrando. Aquele que em alguma foto nos fez ter medo de nossa face. Aquele que aparece no espelho quando estamos no escuro. Que se veste de sombras e mostra o nosso pior. É o Self quem cria o predador fatal. Que ri de nossas inconseqüências. Que nos despedaça para sermos sacrificados. Que usa a máscara sagrada ritual.

Deixamos de lado a máscara das cascas e usamos outra máscara, aquela que coloca em contato com o Divino. Aquela que é ouvida pelos deuses em nossa dança da alucinação. O ser putrefeito que fomos não pode consegue acessar corretamente a Divindade. Não sabe o que considerar. Não é real. Não sabe o que encontrar. Não sabe o que acessar. Simplesmente, não sabe.

Aquele que encara as suas cascas e vai em direção a escuridão interior é aquele que demonstra seu valor. Igrejas aceitam a todos. Prometem a tudo. Dizem que basta nos arrependermos pelos nossos erros.

Não existe diferença: Quem errou sabendo o que fazia?

Cascas não são capazes de pensar. Não podem tocar. Não podem sentir. Cascas são mesquinhas. Se vendem por pouco. Crêem sem compreendem. Vivem estando mortas.

Nada além, apenas dormência.

Espirais além de espirais. Sair dos círculos do labirinto. Voar rumo ao infinito. Andando entre Si Mesmo. Tocar o próprio rosto. Tocar a si mesmo. Ver-se no espelho. Saber quem se é.

Não existe maior prêmio até aqui. E é só o início.

Espirais são infinitos fractais e geram outras espirais, que geram espirais, que geram espirais...

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