quarta-feira, 2 de julho de 2008

Tome-se

A hora do despertar


Tome o lugar de Si Mesmo, aquele seu local no seu íntimo, que sempre lhe pertenceu. Aquele que ninguém deve tomar. Aquele mesmo que nunca devia ter deixado. Seja aquele que renasce a cada instante, a cada novo dia, a cada novo olhar no espelho. Aquele que reconhece quem é. Aquele que ninguém pode controlar. Aquele que é senhor de cada parte de si. Que não pode ser domado, controlado, nem dominado. Apenas quem é, mas nunca deixaram ser. Aquele que é, mas nunca teve coragem de procurar. Aquele que está aí dentro lendo essas palavras, mas nunca deixou a voz ecoar. Aquele que é a reverberação de quem sempre soube que é.

É com esse ser real que falo. Esse ser que pode me ouvir. Não essa casca perdida, voando com os ventos indecisos. Que não tem segurança, que não sabe o que fazer. É aquele que detém todo o contato com a sabedoria divina que estou procurado.

É para esse, que conhece o bem com o mal e o mal com o bem. Que possui em si todas as naturezas, todas as percepções, tudo que é e o que pode e deve ser. Que quebre a casca e descubra o mundo. Abra as asas da própria grandeza, olhe ao longe, veja a tudo. Veja o mundo como é. Esteja além do que impuseram para que fosse. Vá além disso tudo. Vá além das possibilidades desse mundo de fantasia. Devore a si mesmo dentro de suas ilusões e desperte, definitivamente e indo além do que possa sequer imaginar. Pise na imaginação que pensou ter de si. Descubra-se no meio do que deixou de lado. Quebre suas amarras interiores.

Olhe para a montanha. Vá descobrir se o que pensa que é uma montanha é o que sabe sobre ela. Aproxime-se, suba até o seu topo. Observe a tudo. Descubra o que é realmente uma montanha. Nem tudo o que disseram é verdade. Nem tudo que observou é real. Nem tudo que achou era algo. Vá além, muito além do que pensa.

O que pensa das pessoas é falso. O que sabe de si é uma mentira. O que achou ser, uma fantasia. Sua máscara é uma prisão. Suas ilusões sua sentença. Vá além, pise sobre tudo isso e quebre a casca que o aprisiona.

Destrua o castelo que criou para se proteger do mundo. Vá além do mundo, pois esse não pode tocar sua essência. Essa está muito além. É quem inspira, ensina, mostra a mentira, mostra a verdade, a diferença, a repetição, a dança, a loucura de ser livre e poder demolir seus gládios, suas correntes, arrebentar suas relações com toda a teia de relacionamentos. Tudo que o prende. Todos seus contratos, suas necessidades de ser percebido, reconhecido, visto, agradado, mimado, envaidecido, elogiado. Nada disso é preciso, apenas retoques, moedas para dominar, pisar, fazer se esquecer.

Lembre-se.

Lembre-se de quando não era. Que não precisava de nada disso. Quando era quem queria ser. Quando não havia sido educado, treinado, domesticado. Quando isso tudo lá fora não controlava. Quando a felicidade era sua. Quando ninguém jogava com ela. Quando ninguém era capaz de tocar, arranhar, machucar. Como tudo era simples e fazia o que queria. Como uma criança sem se preocupar com qualquer responsabilidade, ou algum vinculo, regra, etiqueta, moral obtusa.

Nada, sua casca é nada. Não existe. Não tem controle. Não pode me dominar. Não pode dominar a nada. Apenas continuar vivendo, com medo, com insegurança, sem conseguir a nada compreender. Que a casca se quebre, que o mundo seja negado, que o rei retome seu lugar, em seu trono eterno. A espada não está mais quebrada.

O senhor de Si Mesmo retornou.

O Rei está além desse reino de servos.

2 comentários:

Fernanda Rodrigues Barros disse...

Mais uma vez passando por esse espaço para ler algumas idéias que sempre reverberaram em minha essência! Tenho notado que os posts são geralmente uma sequência um do outro... mas não necessariamente em ordem... é falado bastante sobre o que de fato somos e o que aparentamos, o que o meio quer que sejamos e como fazer para quebrar essa "casca" e só então passar a descobrir-se e a desmascarar-se! As temáticas abordadas são senão as mesmas, muito semelhantes, no entanto, isso não torna o blog repetitivo... até porque dá para notar a vastidão de idéias sobre os mesmos assuntos, sobre a vida que carregamos ou por obrigação ou por termos encontrado algumas justificativas para continuar na busca até que a foice nos arrebata! "O que sabe de si é uma mentira", essas palavras me fizeram recordar de uma frase "O pior inimigo que alguém pode ter é a si mesmo". E realmente é o que ocorre quando tentamos lutar contra o que carregamos em nosso âmago, em nosso "self", como vc costuma dizer... nos tornamos ativos inimigos de nós mesmos e muitas vezes deixamos a vida passar por cima ao invés de passarmos por ela adquirindo tudo ou boa parte do que ela tem para proporcionar. Enfim, poderia me mudar para este recanto e viver ad eternum por aqui, tamanho é número elevado de comentários que ainda tenho para compartilhar... "a hora do despertar" ainda não ocorreu para muitos, para outros já começou a ocorrer e são espaços como este aqui que colaboram para que se pense e se analise o quanto de errado fazemos e de que forma podemos acertar partindo da idéia do que somos de fato e não do que gostariam que fossemos!

Marcelo Brasil disse...

Fernanda,

falando-se em ins-pirações e no que disse, criei um post sobre o inimigo que carregamos internamente.

Agradeço os comentários. São sempre enriquecedores. Trouxeram algo a mente, que vivi há alguns anos e compensa colocar para fora.