terça-feira, 10 de junho de 2008

Estar-se basta




É no silencio de Si Mesmo que escutamos o universo. Observando o centro, entre os ventos que por ventura aparecem dentro da torre que habitamos. O local de observação, o ponto de todos os instantes, tanto presentes, quanto ausentes. Lá onde as ausências não nos importam mais. Onde não há mais a necessidade do outro, de falar com alguém, de estar com qualquer pessoa. Estar-se basta. O silencio que reverbera em todas as paredes, nos cantos dentro de nós. Ouvir a batida. Ouvir-se como nunca antes foi possível.

Dar-se valor. O real valor. Conquistar a percepção do valor de tudo que temos. Saber o que é nosso, o custo e o sacrifício de cada coisa.

Reforjar a espada quebrada com os nossos pedaços perdidos no caminho. A cegueira do coletivo não nos deixou enxergar. Nos privou, nos atormentou, bloqueou o caminho. Fechou as portas de nossa circulação interna pelo mundo. Respiramos por aparelhos, nunca o ar puro e límpido da atmosfera da mente tranqüila. Não vimos o mar tranqüilo, com todos os seus segredos. Com a imensidão que ali existe. O silêncio das ondas, a brisa que nos acalma.

O mar interior, a enormidade da compreensão. O mar que aquieta. O desaparecer nas ondas harmônicas. O silêncio exterior parido dos mundos próprios. Ser o silêncio, navegar por tudo, compreender o vazio que vive em nós todos. Escutar o vazio. Cada instante em harmonia, o eterno momento. A impermanência.

Estar-se basta.

O centro, aquele que emana. Que emana cada filamento multicolorido da própria existência. Conecta-se a cada memória do que vivi. Do que lembro e da infinidade que desapareceu do sono eterno que existi. Não existo mais, apenas existo de uma forma que não achei ser capaz existir. E em cada lapso, esqueço e lembro de outra forma como nunca soube.

Deixei casca a casca no caminho. Primeiro negaram, então entendi que não sabia. Depois deixei de lado o que julgava saber. Se algo soubesse, alguma noção teria do centro. Nada fora me pertence. Apenas expressa.

Antes tudo simbolizava, tinha sentido, passava alguma mensagem. Colava-se na fortaleza da solidão. No grande Asilo Arkham da loucura do ego e do coletivo. Agora palavras são apenas palavras. E não são minhas.

Cada passo é um passo. Nem sempre é movimento. Até o momento em que tudo para. Mas, algo já se moveu? Era apenas a ilusão de querer estar no caminho.

Aqui não estava. Sempre ausente. Sempre tentando atuar, mas nunca estando aqui. Agora, somente o silêncio dos sussurros. Sou Eu quem olha no espelho, não um fantasma, não uma montagem, ou puzzle, uma parte, uma projeção, um erro, um traumatizado. Nem aquele que tem todas as desculpas, ou todas as justificativas. Nada disso. Nem mais, não tão pouco menos.

Apenas. Nada mais.


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