sábado, 7 de junho de 2008

Na Medida Exata





Quanto mais tende ao centro, mais se deixa de estar no centro.

Estar ao centro é ter a medida correta de si mesmo. Percepção de quem se é de forma correta. É deixar de lado aquilo que nos rouba de nós, que suga partes nossas, que necessita nos tirar próprio centro, para sobreviver dentro de nós.

Alcançar o centro é ir de encontro com nossa história pessoal. Perceber todos os momentos que vivemos, sem apego ao passado. Sem viver no que se foi e estar preso a momentos que não existem mais. É viver cada instante, como sendo eterno, como sendo parte, como sendo um real e não personagem. Saber que temos pouco tempo e que cada instante é eterno. Apreciar cada coisa que vivemos, como cada pedaço nosso que somos, cada relação nossa com tudo que nos cerca, sem sermos influenciados pelo que não é nosso. Pelo que não é nosso e achamos que somos. Sabermos quem somos exatamente, quebrando as esferas de ilusão que existem em torno de nossas vidas. Termos contato com o que nos faz reais. A criação de nós mesmos. O criativo plasmando elementos totalmente pessoais ao nosso movimento de nos fazermos reais. O potencial de fazer-se tornando ato.

Quando mais ao centro, mas reais. Percebendo-se em novos estados. Tornar-se cada vez mais, criando novos estados perceptivos. Renascendo, tornando-se cinzas. No fogo interno da criação. A chama interior, que ilumina todas nossas estruturas. Aquelas que existem e as que virão a ser.

Encontrar-se é ir além do devir. O devir do devir. O fim do movimento da periferia. Colocar-se ao centro e ver tudo girando ao redor. Olhar para o centro e saber que tudo parou. Não há mais fuga. Não existem mais certezas, nem castelos que criamos para tê-las. Não somos mais nada. Somos tudo ao mesmo tempo. Do inexistir ao existir totalmente.

Cascas que deixamos de lado. Imprecisões, medos, perdas de rumo. Estamos além do rumo. Olhando para o caminho infinito. Movendo-nos no centro, sem movimento algum. Observando sem nos observar. Conhecendo-nos, indo além da busca de resposta sobre nós mesmos.

Tudo se silencia. Não existe som algum. Apenas a batida. Aquela que está dentro de nós. A batida que nos conecta com a grande batida. Além do mecanismo barulhento do mundo. Do ensurdecer das engrenagens.

A estabilidade. A tranqüilidade. Cada instante é eterno. Nada dura para sempre.

Saber reconhecer esse instante e estar nele. Não estar no antes, mas saber o que foi o antes. Não estar no depois, mas estar pronto para tal. Passo a passo, sem atropelos, sem se apressar, sem ansiedade alguma.

Poder estar no centro é poder colocar para fora. Dentro de nós reside o que somos. As cascas e o mundo ilusório nos roubaram o poder de nos tornarmos portais. Estar no centro é ser o portal para o que fomos feitos. Ali nascemos. Ali renascemos. Ali recriamos. Ali somos cinza. Ali voltamos à vida. A vida que nunca tivemos. A vida que nos foi negada. Aquela que dói saber que deixamos de lado. Vivendo em eterna catarse, vomitando sempre, nunca conseguindo nos purificar, carregando o peso eterno que jogaram em nossas costas e que nos impediu sempre. Daí para as catábases eternas. Entrando e saindo dos submundos que geramos, ou dos que nos impuseram.

Viver de análise eterna. Precisando sempre e sempre e sempre de ajuda. Sempre procurando ouvir sobre nós. Que nos diagnostiquem, que nos curem, que nos digam que devamos ser. Que tenham uma fórmula mágica, que tirem essa responsabilidade de nós.

Isso é o que nos fizeram acreditar. Que alguém sempre sabe mais de nós. Que não somos capazes de descobrir. Que o outro, algum ser milagroso, resolva nossos problemas. E nossa busca se torna eterna, dependente, imprudente, enganosa, complicada e incapaz. É no externo que procuraremos a resposta? É na linha? E onde está o ponto central?



Quanto mais ao centro, mais a circunferência torna-se irreal. As formas geométricas se tornam fractais e tendem ao infinito. Formas infinitas de infinitas formas. Estar ao centro é saber que se está na periferia e que a jornada ao ponto do meio da profundeza apenas começou. Tudo é eterno e o sono também pode ser. Até o momento supremo da passagem. Ali o desconhecido.

Reflita e não seja um reflexo. Pense e repense quem é. Refaça a tudo, redefina a tudo.

Esteja além de qualquer coisa que o possa agredir. Retirar a importância sobre o que não nos dá importância, sobre o que não tem importância. Aquilo que enxerga é do tamanho de sua visão. Vá além do que pode ver. Veja o que nunca quis perceber. Perceba cada parte do todo. Perceba que o todo é apenas parte.

Encarar o desconhecido sendo desconhecidos. É essa a maldição de quem não encontra o centro.

Tome seu lugar no Mundo.

Esteja além do mundo, fora de seu alcance. Viva no mundo sem pertencer a ele. Acesse seu próprio mundo. Transgredir a tudo que o cerca, ser totalmente o que nunca se ousou.

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